Tantas vezes foi justificada a razão da homenagem, que Bento cresceu com a idéia fixa de que seria o próprio Bento, e destinado a viver, exatamente, aquela história. Até chamava sua amiga de infância no Rio de Janeiro, a menina Ana, de Capitu.
Seus amigos, sabedores do seu sentimento de predestinação, lhe apelidaram, carinhosamente, Dom.
Bento (Dom) e Ana, a sua Capitu, separaram-se quando a família do menino mudou-se para São Paulo para onde ele transferiu seus estudos de engenharia.
Já adulto, de personalidade forte, porém introvertido, Bento foi trabalhar como engenheiro de produção, realizando um sonho de infância.
Dom vinha freqüentemente ao Rio onde o seu melhor amigo e colega dos tempos iniciais de faculdade, o sedutor Miguel, que trancara matrícula logo no 2º ano, tornara-se diretor de vídeo-clips musicais. Miguel era o oposto do temperamento racional e introspectivo do amigo. E Dom admirava justamente o glamour e a inconseqüência do trabalho de Miguel, sempre cercado de belas modelos.
Numa destas visitas ao estúdio do amigo, Dom reencontra a sua Capitu e dali renasce o romance da infância, só que, agora, avassalador. Casam-se e têm um filho. Miguel é o padrinho. Do casamento e do filho. Dom começa a incomodar-se com a presença constante do amigo. E com a maneira como ele diverte a sua Capitu. O ciúme começa a corroer-lhe a alma. Em sua paranóia ele identifica Miguel com o personagem Escobar, de Machado.
Seu filho faz 3 anos e ele desconfia que o amigo seja o pai. A partir daí, Miguel o despreza. Um exame de DNA esclareceria a verdade da possível traição. Dom, contudo, reluta em realizá-lo. Até que uma noite, espera o filho adormecer e rouba-lhe um fio de cabelo sem que ele acorde, sentindo-se gravemente traidor da sua confiança.
O terrível sentimento de Dom atormenta Capitu de tal forma que ela decide abandoná-lo, jurando inocência. Ela morre num acidente de carro. O resultado do exame chega às suas mãos num envelope, mas Dom hesita em lê-lo, pois já perdera Capitu e o melhor amigo.
Se o exame revelar-lhe que não é o pai, perderá também seu filho. Dom, depois de longa reflexão, decide queimar o envelope sem conhecer seu conteúdo, destinando-se a viver o resto de seus dias com a eterna e terrível dúvida à qual Machado condenou seu personagem.